"A maior parte dos mortais, lamenta a maldade da Natureza, porque já nascem com a perspectiva de uma curta existência e porque os anos que lhes são dados transcorrem rápida e velozmente. (...) Não temos exatamente uma vida curta, mas desperdiçamos uma grande parte dela. A vida, se bem empregada, é suficientemente longa e nos foi dada com muita generosidade para a realização de importantes tarefas. Ao contrário, se desperdiçada no luxo e na indiferença, se nenhuma obra é concretizada, por fim, se não se respeita nenhum valor, não realizamos aquilo que deveríamos realizar, sentimos que ela realmente se esvai. Desse modo, não temos uma vida breve, mas fazemos com que seja assim. Não somos privados, mas pródigos de vida. Como grandes riquezas, quando chegam às mãos de um mau administrador, em um curto espaço de tempo, se dissipam, mas, se modestas e confiadas a um bom guardião, aumentam com o tempo, assim a existência se prolonga por um largo período para o que sabe dela usufruir.
Parte I do livro "Sobre a brevidade da vida"
Sobre o autor, Lucio Anneo Sêneca (4 a.C. - 65 d.C.)
Filósofo, dramaturgo, político e escritor, foi um dos expoentes intelectuais de Roma. Recém chegando em Roma, estabeleceu-se como advogado (alguém que falava no lugar de outra pessoa). Como conselheiro, tomou parte na corte do imperador Calígula. No ano 41, Messalina, mulher do imperador Cláudio, provocou o banimento de Sêneca para Córsega.
A nova mulher de Cláudio, Agripina, chamou-o a Roma para ser tutor de seu filho, L. Domitius. Em 54, com a morte de Cláudio, o pupilo de Sêneca, tornou-se o novo imperador, Nero, que passou a governar sob orientação de Sêneca. Porém, aos poucos, Sêneca e outros conselheiros perderam a influência sobre Nero, e o governo deste se tornou cada vez mais tirânico.
Em 62, Sêneca aposentou-se e passou a dedicar o seu tempo ao estudo e à escrita. Em 65 foi acusado de participar de um golpe para assissinar Nero. Sem julgamento, recebeu do imperador a ordem de suicídio, o que o fez.
O pensamento de Sêneca, influenciado pela escola estoica (estoicismo propõe viver de acordo com a lei racional da natureza e aconselha a indiferença em relação a tudo que é externo ao ser; sinônimos: austeridade, impassível, imperturbável, insensível), enfatizava medidas práticas por meio das quais enfrentar os problemas da vida, e também a necessidade de se encarar a própria mortalidade e a morte.
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