10 de abril de 2011

Gonçalo Tavares

No ano passado participei de uma oficina de escrita pela Fundação Cultural, com o Marcio Abreu. Foi numa oficina muito curta, apenas 2 semanas, mas foi muito intensa no sentido de riqueza literária.

O professor nos apresentou um escritor muito bom chamado Gonçalo Tavares. Durante as duas semanas, lemos o seu livro “Ou o homem é tonto ou é mulher”. É um novo estilo literário, pois envolve a prosa, mas em disposição de poesia. O conteúdo é muito direto, como se fosse uma “filosofia aplicada” ou uma meditação escrita. É um tom sarcástico mas numa medida boa de se ler. O Saramago elogiou seu trabalho, falado que era um escritor com um futuro brilhante. Inspirada nesse estilo do Gonçalo que acabei escrevendo o texto “Tudo que não existe”, postado aqui no blog há um tempo.

Transcrevo aqui algumas linhas do seu livro “Ou o homem é tonto ou é mulher”.

“Tenho pedras no bolso.

Muitas pedras no bolso.

Troco duas pedras por uma maquina de pensar.

Quando penso dói-me a cabeça.

Daí as pedras.

Tenho 5 pedras porque penso mal 5 vezes.

Tenho 5 pedras nos bolsos.


Quero viajar.

Mas para viajar é necessário ser leve.

As pedras são pesadas.

Não consigo viajar com tantas pedras.

Tenho tantas pedras dentro da cabeça, dentro do crânio.

Total: 5.

Daí meu peso.

Impossível viajar com tanto peso.


Quero comprar uma máquina que pense por mim.

Tenho o livro de um filósofo.

Tenho 2 livros de um filósofo.

Um livro é uma máquina que pensa por mim e é uma máquina barata.

Mas eu não quero que pensem por mim sempre da mesma maneira.

O mesmo livro pensa sempre da mesma maneira.

Se eu fechar o livro, calo-me, e as pedras pesam-me mais no crânio.

Se eu abrir o livro começo a falar, mas digo sempre a mesma coisa.”

Nenhum comentário: