Tudo acontecia a poucos passos, em todas as direções.
Havia um ecossistema próprio.
E eu aqui, sem saber ao certo como buscar a intercessão.
Colocar-me em comum.
Colocar-me em coletivo, ou como protagonista de algum modo que não seja senão o meu.
Um homem ao lado fala de forma expressiva.
Quase impositiva.
Gesticula de forma enérgica, sem se importar com o reflexo disso aos demais.
Típica situação de incerteza, se havia vontade dos outros ouvirem, ou de se libertarem de toda aquela história.
O que determina é a força contida na vontade.
Eu por exemplo, homem feito, incompreendido na minha expressão,
Coloco direção à ação, mas à vontade não muito clara.
Isso leva a atos um tanto caóticos, reforçando minha incompreensão.
Um senhor à sombra da figueira, parece estar no infinito do seu espaço próprio.
Divagando talvez sobre o vago.
Divagando sobre o incompreendido.
Uma mulher sentanda num banco que parece de praça, fala sobre o seu amigo que está a visitá-la, mas os outros não o enxergam como deveria.
O guarda olha a tudo e a todos, com a frieza padrão, impondo sua superioridade desmedida.
E eu aqui, sem saber ao certo como buscar a intercessão.
Outro dia, recebi uma carta de um velho amigo meu.
Fiquei pois, muito feliz, visto que cartas são coisas que pertencem ao passado.
Agora, a modernidade já nos tomou a vida.
Agora, a vida é cibernética.
E os correios, que acertem o passo.
Então, a carta. A carta do meu amigo.
Quantas surpresas!
Surpresa pela carta por si só.
Surpresa da sua origem: meu amigo tão distante, meu sangue, meu irmão, minha carne.
Eu era a unha, ele a carne.
E de repente, a decepção, o medo, a incerteza, o afastamento... tudo aquilo que constitui um abismo entre uma unha e uma carne.
As coisas deveriam ser mais simples.
Deveria haver uma bula básica, com indicação das coisas que acontecem, e como resolvê-las.
Colocando essa idéia no mundo real, deveria haver um manual de como não gerar problemas.
Veja, o homem existe há muito tempo. Há tanto tempo que nem ele ao certo sabe desde quando existe.
Todas as possibilidades de coisas que poderiam acontecer, já aconteceram.
As atitudes frente a essas coisas também já foram tomadas, validadas, sentidas, sofridas.
Por que ainda não fizeram um manual de tudo isso?
Taí a única coisa que ainda falta ser criada!
Se isso já tivesse sido criado, eu poderia consultá-lo nesse momento.
Com toda a humildade e mente aberta que fosse possível.
Nessa hora, eu buscaria no sumário o capítulo “família”.
E eu aqui, sem saber ao certo como buscar a intercessão.
Ops, o guarda se aproxima de mim.
O guarda com toda aquela pompa de “sabedor de tudo”.
Fala no tom, naquele tom desmedido.
Este guarda, camuflado de enfermeiro, faz questão de não confirmar tudo aquilo que existe dentro de mim.
É... a vida é cruel.
A vida, já foi.
E o meu amigo. Esse meu amigo que resolveu escrever, de forma a me tirar tanto assim dos eixos.
Se é que ainda tenho eixos.
Se é que ainda eu vou me libertar desse manicômio que me prenderam.
Se é que ainda terei a chance de consultar algum manual, de validar se existe eixo em mim, se a unha pode ter ainda sua carne de volta.
Mas o tempo é cruel.
O tempo é tarde.
O tempo, já foi.
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